sábado, 4 de outubro de 2008

A arte de iniciar um texto


Fiz um post no Leituras &Releituras sobre os erros mais comuns em redações e lembrei-me que os alunos sentem dificuldade em começar um texto. Para que o texto desperte a atenção do leitor já se deve começar com estilo, e isso exige um trabalho mental de busca e a consciência de se saber aonde você quer chegar, durante o trajeto entre a letra maiúscula do parágrafo de abertura e o definitivo ponto final. Por essas e outras, sou admiradora daqueles que dominam o ofício de pegar o leitor por um bom início e fisgá-lo pelas palavras impactantes. É o caso, por exemplo, do escritor português Miguel Esteves Cardoso. Além de ter redigido um dos melhores começos de romances de todos os tempos, ainda batizou sua obra com um nome sensacional: “O Amor é Fodido”. Confiram o seu parágrafo de abertura:

“Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sentiste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu. Devias ter sofrido. Porque eras má. Eu pensava que não. Enganaste-me. Alguma vez pensaste no que isso representou na minha vida miserável? Agora apetece-me assassinar-te de verdade. É indecente que já estejas morta”.

Não é um parágrafo de causar inveja? Claro que não somos escritores, mas outro dia a Rosana Hermann, apresentadora de TV e blogueira , resgatou em seu Twitter o primeiro post que escreveu na vida. Rosana iniciou seu blog em 19 de dezembro de 2000, em grande estilo:

“Depois de inúmeras pesquisas em campo, especialmente santo, descobrimos que morrer é a pior coisa que pode acontecer na vida. Realmente, a morte é o fim da picada. Por isso, preparei meu próprio epitáfio, para que eu possa realmente descansar em paz, sem ficar preocupada que algum idiota vai redigir um texto sob o qual terei que repousar eternamente. Convenhamos, para quem passou a vida dedicando-se ao texto, nada poderia ser mais desagradável do que ter um outro autor assinando sua derradeira obra. Assim, aviso a todos que, quando eu for encontrar com a grama pela raiz, que por favor, escrevam sobre a minha lápide este último desabafo: -Era SÓ o que me FALTAVA."

"As boas opiniões não têm valor. Depende de quem as têm." Kraus, Karl