quinta-feira, 2 de outubro de 2008

São Bernardo, de Graciliano Ramos: A interpretação segundo Umberto Eco

No entendimento de Umberto Eco a interpretação ocorre sempre que respeitamos a coerência de um texto, ou seja, quando temos em vista o mundo possível de um texto e o léxico de uma época. O uso, por sua vez, dá-se quando tomamos o texto da forma a mais livre possível, ampliando o universo do discurso. O uso da interpretação são duas formas igualmente válidas de aproximação de um texto. O que importa, ressalta Eco, é saber distingui-las. Se o uso de um texto é ilimitado, a sua interpretação não o é. Para demonstrar essa tese, Eco analisa a clássica oposição entre a interpretação como busca da intentio auctoris (o que o autor quis dizer), e a interpretação como atribuição de uma intentio lectoris (o que, no texto, o destinatário encontra com relação ao seu próprio sistema de significação). O limite da interpretação é dado, em primeiro lugar, pela idéia segundo a qual um texto é um todo coerente. Com efeito, ao interpretar um texto o leitor extrai certa porção do mesmo, porção que será confirmada ou rejeitada pelas demais porções do texto. Em outras palavras, a interpretação de uma parte do texto é validada se ela funciona para todo o texto. Neste sentido, conforme assinala Eco, reconhecer a intentio operis é perceber uma espécie de estratégia semiótica. “Como provar uma conjectura acerca da intentio operis? A única maneira é verificá-la a partir do texto enquanto conjunto coerente. Também esta idéia é uma idéia antiga e vem-nos de Agostinho (De doctrina christiana): qualquer interpretação dada
de certa parte de um texto poderá ser admitida se confirmada por — e deverá ser rejeitada se for contrariada por — uma outra parte do mesmo texto. Neste sentido a coerência textual interna controla as derivas de outro modo incontroláveis do leitor”. Mas o ato interpretativo, além de considerar o texto como um todo orgânico, leva em conta também as condições de produção desse texto. Afinal, quando um amigo nos escreve uma carta, por exemplo, não podemos deixar de nos interessar por suas intenções, portanto, por aquilo que o autor empírico quis dizer. O mesmo não ocorre quando o texto é endereçado não a alguém em particular, mas a um universo imenso de leitores.
Em literatura sabendo justificar o que se interpreta quase toda leitura é válida, mas eu faço a seguinte leitura: Acho que é um romance de tese, no qual Ramos queria mostrar o mal causado pelo Capitalismo (Honório) às pessoas. Por outro lado, Madalena seria o Socialismo (o genial é o ponto no qual Honório nunca conseguiu de fato compreender a mulher). É um livro muito bom. Mesmo com a comparação ao Dom Casmurro (acho inevitável, já que há toda a idéia de um memorial, incluindo o ciúmes e afins), ainda assim é um destaque na literatura brasileira, ao meu ver. Acho que já comentei por aqui, mas tem vezes que gosto mais de São Bernardo do que de Angústia. Se extrapolei nos limites da interpretação podem discordar.
Resumo e análise no site abaixo: