quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sorôco, sua mãe, sua filha


"Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois”.
João Guimarães Rosa - Sorôco, sua mãe, sua filha

Esta semana, trabalhei com minha turma do terceiro ano do ensino médio, o conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", de Guimarães Rosa. Quando estava preparando a aula, já decidi: este conto eu não poderei ler oralmente, pois faz parte de uma série de contos que me deixam muito emocionada. Sendo assim, prefiro evitar sua leitura. Minha voz começa a sumir e de repente vem às lágrimas. Meus alunos já sabem que a grande literatura tem esse poder sobre as pessoas e espero que um dia cada um deles experimente algo parecido.
Nem preciso dizer que este é um dos meus contos favoritos. E gosto dele porque obriga o leitor a (re) valorizar a sensibilidade. Ficar indiferente à canção das duas loucas é simplesmente abandonar o que de mais humano cada um de nós tem. Era necessário que duas "transtornadas pobrezinhas", rumando pra lugar distante (e lição deixada por quem parte é sempre mais significativa), recuperassem um poderoso sentimento de solidariedade e compaixão com o outro - "A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele de verdade. A gente, com ele, ia até onde que ia aquela cantiga".
Todos os dias tenho vontade de "me esquisitar", tal como fez o abrutalhado Sorôco e continuar uma canção sem sentido aparente...
Se quiser ler o conto completo, acesse o link abaixo: