sexta-feira, 13 de junho de 2008

Macunaíma: Marco na literatura do Séc.XX


O que tem em Macunaíma que nos remete a atualidade?
Há características de nossa identidade nacional. Mostra quem somos nós e a leitura do livro pode ajudar o aluno a entender o seu próprio comportamento: a questão da identidade brasileira.
Mário de Andrade era um escritor bastante preocupado em buscar nossa identidade. Estudava tudo que se referia ao Brasil e a nossa cultura, as artes, a música, a literatura, os costumes, o folclore, a etnologia e a etnografia. A obra “Macunaíma" foi editada em 1928, e traduz as duas paixões de Mário de Andrade: o amor a São Paulo e o estudo dos costumes do povo brasileiro. Para falar de nossa cultura, ele usou um gênero muito antigo: a Rapsódia, como em Sagarana, de Guimarães Rosa.Um exemplo de rapsódia antiga encontra-se em Ilíada. Homero circulou entre o povo grego e coletou suas histórias, suas lendas e juntou tudo no livro "Ilíada e Odisséia". É interessante perceber essa soma entre o clássico e o moderno. Mário de Andrade era apaixonado pelo Brasil e juntou esses elementos.Para quem lê, parece caótica, mas o que se vê são referências a tudo que se diz sobre o Brasil. Na verdade ele compôs um painel de todas regiões do Brasil. Ele estudou os costumes dos índios, as lendas, o Bumba meu boi, as religiões africanas, um exemplo disso está no próprio significado da palavra indígena macunaíma, que é “o grande mau”. A importância em analisar o livro é o seu aspecto antropológico, sociológico, que sai da literatura. No filme, interpretado por Paulo José e Grande Otelo, mostra algumas características do brasileiro: preguiçoso, sensual, mentiroso, malandro. Macunaíma tem origem indígena, vem da tribo Tapanhumas, uma tribo extremamente negra, ao longo da narrativa ele transforma-se em branco, nascendo a raça brasileira da união das três raças: o português, o índio e o negro. A produção de Joaquim Pedro de Andrade(1969), baseado na obra de Mário de Andrade, é um marco na história do cinema brasileiro. Conseguiu fazer uma crítica social a quase todos os tipos sociais e do Brasil. Principalmente, conseguiu fazer um filme bom que caiu no gosto de pobres e ricos da época. Paulo José fazendo a mãe que pariu Macunaíma, que nasce negro, e depois interpreta a versão do Macunaíma que vira branco só porque saiu da aldeia (pensem no simbolismo que era a fonte que o transforma em branco); do cigarrinho que fazia uma índia (Joana Fomm) vê-lo como um príncipe; dos irmãos igualmente preguiçosos mas menos criativos ao fato de na aldeia eles serem brancos ou negros, sem aparência de índio, a não ser pelo mito de preguiçoso, revelado diversas vezes na fala “Aaaaaii, que preguiça”. Mas olha a singeleza do diretor. Macunaíma criança comendo terra e seu irmão perguntando: “Ta gostoso, coração, ta?”. Na cidade grande, outros tipos são ridicularizados. A mais interessante é Ci, interpretada por Dina Sfat, uma guerrilheira resistente à ditadura, ninfomaníaca e que adora dinheiro. Os duelos de Macunaíma com o gigante Pietro Pietra, representam a dificuldade que os menos abastados têm de subir na vida. Uma das mudanças mais marcantes em relação ao livro de Mário de Andrade, em que o anti-herói se transformava num mito brasileiro. Enfim, creio que a mudança da história do livro para o cinema fora necessária para o diretor se propunha, como na cena da feijoada humana (no filme) em vez da macarronada (no livro) e de Mário não diz onde Macunaíma teria nascido, mas Joaquim mostra exatamente onde. Para o que Andrade queria (e fez) retratar se saiu muito bem. Afinal, “muita saúva e pouca saúde os problemas do Brasil são”.
Trecho do filme "Macunaíma" de Joaquim Pedro, adaptado da obra de Mario de Andrade.
Na cena, Macunaíma (Grande Otelo) nascendo.