domingo, 6 de abril de 2008

Tapinha não Dói - Paranóia ou Mistificação?

Em primeiro lugar temos que decidir: a música “Tapinha Não Dói” estaríamos falando de arte ou não? E se for arte, portanto estaríamos vendo a historicamente odiosa repressão aos artistas?

Não quero aqui defender esta música, pois inclusive tenho sérias restrições à estética do “Funk”, mas quando Monteiro Lobato produziu uma crítica conceituando o artista como sendo de duas espécies: Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem gênio. A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro.
Criticava Anita Malfatti pela sua arte inspirada nos futuristas, cubistas e impressionistas da época. Mal sabia ele, que também, mais tarde seria estudado e classificado esteticamente ao lado da pintora ao escrever “Urupês”, e criar a figura do “Jeca Tatu”. Ele também estava imbuído das idéias modernistas da época e deixou-se influenciar pelo que via ao seu redor e acabou fazendo de sua arte a concretização de suas emoções estéticas.
Não sou crítica de arte, apenas uma professora de Literatura, a música julgada também não me agrada, porém reconheço a força estética da violência na arte brasileira contemporânea, ao menos na literatura. Obras recentes como “Cidade de Deus”, “Carandiru”, a premiação de “Tropa de Elite”.
Definir arte é impossível, como atesta François Werren: ninguém sabe o que é arte. Evidentemente não seria numa ação judicial que se encontraria essa definição.
Segundo Bérgson, cabe ao artista captar a realidade, pois sendo ele mais sensível enxerga o que outros não vêem. Eis a função da arte: captar a realidade humana de maneira que as ciências jamais conseguiriam, e agradar ou não as pessoas. A arte contemporânea não poucas vezes choca fortemente as pessoas. E a estética da violência não está somente nos funks brasileiros. Estão nos filmes americanos, nos livros, letras de músicas, raps, rocks e muitas destas sem o tom de humor do funk “Tapinha não dói”, mas tudo isso ocorre sem que haja censura econômica em que a jurisprudência mostrou. O grande problema é que a realidade atual é de violência.
Por melhor que sejam as intenções dos autores da ação e do julgador procurando manter os altos valores, estão fazendo o que a história de injustiças nos conta: veja a prisão de Oscar Wilde por homossexualismo, O julgamento de Goethe, em Madame Bovary, os que incendiaram Giordano Bruno, os que queriam a solução final para os judeus, os homens de Stalin ao mandarem os “traidores” aos Gulags e aos pelotões de fuzilamento.
O que nos choca, na realidade, é ver uma crescente censura maculando a tradição de liberdade de expressão enraizada como direito do povo brasileiro.

Crítica completa: Paranóia ou Mistificação? Monteiro Lobato.