quinta-feira, 27 de março de 2008

Urupês

Caipira picando fumo - 1893óleo sobre tela - 70 x 50 cm Pinacoteca do Estado de São Paulo- Almeida Júnior

Caros alunos do 3o. ano. Este será o nosso próximo estudo literário deste bimestre.Farei uma breve explanação sobre a obra e sua repercução social, seu aspecto contemporâneo, bem como as outras atividades artísticas que se ligaram a ela. O livro contém doze histórias baseado no trabalhador rural paulista. Simboliza a situação do caboclo brasileiro, abandonado pelos poderes públicos às doenças, principalmente a Ancilostomose (ou Amarelão), seu atraso e à indigência.No conto "Urupês", Monteiro Lobato personifica a figura do caboclo, criando o famoso personagem Jeca Tatu, apelidado de urupê (uma espécie de fungo parasita). Vive "e vegeta de cócoras", à base da lei do menor esforço, alimentando-se e curando-se daquilo que a natureza lhe dá, alheio a tudo o que se passa no mundo, menos do ato de votar. Representa a ignorância e o atraso do homem do campo.Muitos pensam que o jeca de Lobato se acabou com o grande êxodo rural dos anos 60 e 70. Eis o engano. E, por conseqüência, a graça de ler Urupês. O jeca migrou, de fato, para as cidades. Mas nunca deixou de ser o jeca, feliz com a sua ignorância, cometendo atrocidades em nome da burrice arrogante de ser feliz facilmente. O trabalho do escritor voltado para várias questões sociais, dentre elas a saúde pública no país, repercute na política e na campanha sanitarista da década de 20, denunciando a precariedade da saúde das populações rurais, com impacto na redefinição das atribuições do governo no campo da saúde.
"Jeca Tatu não é assim, ele está assim".
POSSE - O grande feito de Lobato nesse livro foi denunciar o esquema que domina o país por meio da política e da posse e mau uso da terra. A malandragem, a mentira, a crueldade das pessoas poderosas escorrem como fel das páginas destas narrativas. A chamada elite (o grupo privilegiado que se beneficia de toda essa bandalheira) impera na nação roubada, vilipendiada e por isso mesmo, condenada ao atraso. Mas Lobato sabia de tudo. Não iria fazer uma denúncia pão-pão,queijo-queijo. Ele simplesmente vira o binóculo ao contrário e seduz o leitor (os brasileiros vítimas desse sistema de exclusão e que estão em todas as classes sociais, especialmente a classe média, que comprava seus livros) criando a representação da ponta do varejo da exclusão. Sua definição do caboclo, que não deita raízes sobre a terra latifundiada, e é tocado de um ermo para outro, é o poder escancarado dos coronéis do mando e do garrote. Ao inventar o Jeca Tatu, Lobato decifrou a unha encravado da vida comunitária no Brasil. A partir do Jeca, toda uma linhagem cultural se formou, de Mazzaroppi à música sertaneja. O que ele denuncia como ausência de arte no caboclo acabou se transformando em arte popular genuína, pois o povo entendeu o recado e assenhorou-se do retrato para tornar-se visível na nação cega.
Ler artigos:http://www.consciencia.org/neiduclos/Article247.html

Assista ao vídeo: Jeca Tatu, com Mazzaropi.